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Educação na pandemia e seus múltiplos desdobramentos

por Fernanda Rezende - publicado 14/08/2020 10:41 - última modificação 14/08/2020 10:41

por Edson Grandisoli, Pedro Roberto Jacobi, Silvio Marchini, Arlindo Philippi Jr., Marcos Buckeridge

por Edson Grandisoli 1, Pedro Roberto Jacobi 2, Silvio Marchini 3,
Arlindo Philippi Jr.
4, Marcos Buckeridge4

A pandemia trouxe a urgente necessidade de adaptações de todas as atividades e setores da sociedade. Por este motivo, o Centro de Síntese USP-Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados da USP se propôs, durante todo o período de pandemia, a trabalhar em diversos aspectos relacionados aos seus impactos sobre a sociedade. O trabalho resultou em ensaios, eventos, artigos e documentos que contribuem com visões múltiplas sobre um dos eventos extremos mais drásticos já enfrentados pela humanidade.

Um dos aspectos abordados foi a educação. Pela relevância do tema, considerando que os impactos sobre este setor são estratégicos para a sociedade, entendeu-se a necessidade urgente de avaliações que possam nortear ações governamentais na área.

Na primeira semana de agosto de 2020, em pleno período de pandemia, o USP-Cidades Globais publicou o documento intitulado Educação, docência e a COVID-19, que apresenta uma análise sobre como os professores da rede pública de ensino paulista lidaram com este período tão difícil.

A Educação (pública e particular) talvez tenha sido uma das atividades que mais rapidamente se adaptaram às novas condições impostas pelo afastamento social.

Dar continuidade ao processo de ensino e aprendizagem exigiu de gestores, educadores, estudantes e famílias a busca por novos arranjos pessoais e profissionais que, ao longo dos últimos meses praticamente se tornaram um.

Desafios educacionais que já existiam antes da pandemia ganharam nova dimensão e nova importância frente à enorme diversidade de situações sociais, econômicas e culturais. No Estado de São Paulo, essa realidade diversa foi retratada, considerando indicadores de saúde, afetivos e pedagógicos.

Entre os muitos aspectos reportados na pesquisa, destacam-se os sentimentos dos mais de 19 mil docentes participantes com relação à sua atuação por meio de educação mediada por tecnologia. Apesar de todos os já conhecidos desafios relacionados ao uso da tecnologia na educação, cerca de 30% dos participantes citaram “desafio”, “aprendizado” e “inovação” como os principais sentimentos associados a essa nova modalidade de trabalho. Vale destacar que, no total, 62% dos sentimentos citados pelos docentes puderam ser classificados como positivos.

Cerca de 70% declaram se sentirem aptos e apoiados do ponto de vista de formação para continuarem desempenhando suas funções, apesar de se declararem ainda inseguros frente a alguns desafios, o que é perfeitamente compreensível frente as imensas e abruptas mudanças trazidas pela COVID-19.

Somados a esses fatores, 79% e 68%, respectivamente, afirmam que sua atuação como docente e a Educação como um todo mudarão para melhor em um cenário pós-pandêmico.

Para além dos aspectos pedagógicos, mais de 60% afirmaram estar gozando de boa saúde mental e cerca de 72% acreditam que não precisam no momento de apoio especializado (psiquiátrico, psicológico, etc.).

A pesquisa apresenta, graças à participação dos professores da Rede Estadual de São Paulo, um quadro positivo, a despeito da pandemia. Os educadores se mostram, em sua maioria, proativos e dispostos a se adaptar da melhor forma possível para continuar garantindo ensino de qualidade para todos.

Os esforços combinados de gestão, docentes, estudantes e familiares nos levaram a acreditar que a pandemia trouxe alguns aspectos positivos à Educação, em especial, na capacidade, dedicação e resiliência do seu ator central: o professor.

É fundamental, entretanto, que os resultados desse esforço sejam avaliados com o intuito de entender com profundidade como se deram os múltiplos processos de ensino-aprendizagem e que lições podem ser aprendidas. Este aprendizado não só ajuda a perenizar aspectos positivos oriundos do evento da pandemia, mas também aponta caminhos para fazer ainda melhor no presente e no futuro, seja em tempos de exceção, ou não. Este entendimento só se torna possível a partir da atuação e participação dos professores em suas atividades no momento de alta complexidade em que vivemos.


1 Pesquisador colaborador do Programa USP Cidades Globais (IEA-USP)

2 Pesquisador colaborador do Programa USP Cidades Globais (IEA-USP)

3 Pesquisador colaborador do LEMac (Esalq-USP)

4 Coordenação do Programa USP Cidades Globais (IEA-USP)