Imagens do Brasil: Quantos Espelhos?
Celeste Ribeiro-de-Sousa (organizadora)
IEA, 2025
158 páginas
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Há 202 anos, em 7 de setembro de 1822, surgia oficialmente no cenário mundial um novo país chamado Império do Brasil. Necessário se fazia criar-lhe uma imagem identitária, tarefa levada a cabo por José de Alencar, a título de exemplo, ao escrever o romance Iracema (1865), em que o primeiro brasileiro é o herdeiro genético de um português (Martim) e de uma nativa (Iracema), habitante de belas e quase paradisíacas florestas. Registrava-se assim um mito fundador da nacionalidade brasileira, junto com outros símbolos como a nova bandeira e o novo hino.
O objetivo deste livro é estimular o debate sobre imagens literárias que espelham o Brasil, colocando algumas delas em discussão num contexto amplo. Afinal, conforme Lacan, a identidade de um indivíduo (e de um grupo) organiza-se dentro de um processo relacional e contínuo. O reconhecimento de si mesmo também depende de um olhar externo.
O presente livro apresenta questões ligadas ao uso e ao alcance do terminus Imagologia, apresenta imagens do Brasil em obras escritas por autores que viveram no país e por aqueles que aqui não estiveram, tendo apenas ouvido falar ou lido sobre o Brasil em livros de terceiros. Por exemplo, a escritora austríaca Paula Ludwig esteve exilada em nosso território; a família francesa dos Taunay também experimentou a terra brasileira; da mesma forma, os italianos Giuseppe Ungaretti e Contardo Calligaris tiveram conhecimento da realidade brasileira in loco. Também esse é o caso do japonês Tatsuzô Ishikawa. Mas o russo Daniil Kharms e o português/angolano Luandino Vieira não viveram em terras brasileiras, suas informações sobre o país são inteiramente atravessadas por visões de outros. Aqui medram os estereótipos. E até os casos das narrativas dos indígenas Itapuku, Pedro Poti e Felipe Camarão são “traduções” de europeus.
O conjunto dos ensaios permite desenhar um primeiro perfil do modo como os estrangeiros captam e configuram literariamente a complexa imagem do Brasil, abrindo espaço para o debate: em que medida essas imagens refletem o país que configuram ou são projeções de realidades que habitam seus autores; em que medida o país se reconhece ou não se reconhece nessas imagens e que implicações isso acarreta.