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Homenagem ao Prof. Francisco Corrêa Weffort

por Cláudia Regina - publicado 24/08/2021 10:25 - última modificação 08/10/2021 15:00

Detalhes do evento

Quando

de 07/10/2021 - 09:30
a 07/10/2021 - 16:30

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UMA VIDA EM DEFESA DA DEMOCRACIA

Natural de Quatá (SP), onde nasceu em 1937, faleceu no dia 1 de agosto passado o professor Francisco Corrêa Weffort, um dos mais importantes intelectuais do país que dedicou toda a sua vida em defesa da democracia. Com 84 anos, ele não resistiu a um procedimento para uma cirurgia cardíaca. Weffort deixou, além de sua esposa, Helena Severo, sete filhos de casamentos anteriores.

Professor Titular aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Weffort foi o principal responsável pela reorganização da área de Ciência Política da universidade após a aposentadoria forçada de professores pelo regime militar. Ele foi Chefe do Departamento de Ciência Política, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), do qual foi seu Secretário Geral por vários anos, e ao qual permaneceu filiado até 1994. Em 1995, após ter deixado o partido, assumiu o Ministério da Cultura no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), permanecendo nessa posição por oito anos, entre 1995 e 2002, e tornando-se, assim, o mais longevo ministro da área no país, cuja principal política pública foi a democratização do acesso dos brasileiros à Cultura.

Weffort foi também fundador e presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais - ANPOCS, fundador e pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea – CEDEC, e Professor Visitante na Universidade de Essex, do Reino Unido, no Wilson Center e no Helen Kellogg Institute da Universidade de Notre Dame, ambas  instituições dos EUA. Após o golpe militar de 1964, Weffort foi para o Chile, onde trabalhou, sob a chefia de José Medina Echeveria, na CEPAL, e em cujas circunstâncias conviveu com colegas e amigos exilados como Fernando Henrique Cardoso, Almino Affonso e outros.

Em 1968, obteve o doutorado em Sociologia Política pela USP com a tese “Populismo e Classes Sociais”, e em 1977 a livre-docência com “Sindicatos e Política”. Autor de vários livros, entre os quais, “O Populismo na Política Brasileira”, “Formação do Pensamento Político Brasileiro”, “Por que Democracia?”, ”Qual Democracia?” e “Espada, Cobiça e Fé”, o último trabalho publicado de Weffort foi a obra “Crise da Democracia Representativa e Neopopulismo no Brasil”, em coautoria com o professor José Álvaro Moisés.

UM PENSADOR DA DEMOCRACIA

Weffort dedicou a sua vida e a sua carreira acadêmica à defesa da democracia. Toda a sua obra aborda, de diferentes perspectivas, as questões mais fundamentais do devir e do funcionamento do regime democrático. Em seus principais livros e artigos sobre o tema, abordou a multidimensionalidade do fenômeno democrático sem recorrer a qualquer definição maximalista, mas tendo por referência a noção relativamente consensual na ciência política contemporânea, segundo a qual a democracia supõe, antes de tudo, o império da lei, ao qual se subordinam – ou devem se subordinar – governados e governantes, a liberdade dos cidadãos para se organizar e competir de modo pacífico pelo poder e o direito de escolha dos eleitores, através do voto, das condições de constituição do poder, assim como de definição de políticas públicas fundamentais demandadas pela sociedade. Sua leitura do fenômeno democrático foi sempre influenciada pela sua crítica das desigualdades sociais e pela defesa da justiça social. Weffort tratou todos esses elementos como atributos mínimos e essenciais da democracia de qualquer tempo ou de qualquer lugar em que o regime exista ou tenha existido.

Nesse sentido, um dos aspectos mais importantes de sua atividade acadêmica foi o diálogo intelectual que manteve com os atores situados tanto no campo da esquerda, como no campo do liberalismo em torno da necessidade de reconhecimento do valor universal da democracia. Weffort chamou a atenção, assim, para o papel estratégico das lideranças políticas comprometidas com a democracia para a criação e o desenvolvimento da cultura cívica que reconhece e legitima o regime democrático como o fiador da solução pacífica dos conflitos que são próprios de sociedades complexas e desiguais.

Na homenagem a esse grande pensador da democracia, não parece nada irrelevante retomar essas reflexões no momento em que alguns desenvolvimentos recentes do quadro político provocaram o surgimento de tendências de segmentos que – no desejo de participar da vida política – estão, no entanto, apelando para formas de ação que recusam o diálogo e a negociação, e antes adotando a ação que envolve o confronto e, em alguns casos, a violência voltada para a destruição de instituições democráticas fundamentais.

Na esperança de que essas atitudes sejam expressões meramente episódicas ou momentâneas de uma experiência democrática que ainda tem muito por avançar, a retomada do legado de Francisco Weffort se constitui – como ele sempre desejou – em uma nova oportunidade para se repensar as suas implicações para a qualidade da democracia brasileira. Isso é possível por causa da extrema atualidade do pensamento político de Weffort em um momento em que existem ameaças à democracia no país.

ABERTURA E GENEROSIDADE

Para além de sua carreira acadêmica, o professor Francisco Weffort - como ele gostava de ser chamado -, era conhecido pela grande abertura com que tratava as ideias de seus alunos e de demais atores com quem interagia. Pessoa de muito fácil acesso com os demais, era, sobretudo, generoso e acolhedor no trato, não só com seus familiares e amigos mais próximos, mas com todos com quem estabelecia contato.

Inscrições

Evento público e gratuito | sem inscrição prévia

Não haverá certificação

Programação

9h30

Abertura: Guilherme Ary Plonski (FEA, EP e IEA/USP); José Álvaro Moisés (IEA/USP); João Paulo Cândia Veiga (FFLCH/USP) e Elizabeth Balbachevsky (NUPPs; FFLCH e IEA/USP)

10h

Mesa 1 – Juan Carlos Torre (Universidad Torcuato Di Tella) e Lourdes Sola (NUPPs e FFLCH/USP)

14h15

Mesa 2 Maria Hermínia Tavares de Almeida (FFLCH/USP); Luiz Werneck Vianna (PUC/RJ)  e José Álvaro Moisés (IEA/USP)

Evento com transmissão em: http://www.iea.usp.br/aovivo