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A revista "Estudos Avançados"

por Marilda Gifalli - publicado 08/02/2013 18:10 - última modificação 29/08/2014 14:00

Alfredo Bosi

 

O primeiro número da revista estudos avançados saiu no final de 1987, um ano depois da criação do Instituto de Estudos Avançados (IEA). O projeto da revista nasceu e cresceu em íntima conexão com o novo ins-

tituto da Universidade de São Paulo (USP). Como esse, visava estimular uma prática transdisciplinar, que a especialização em todos os ramos do conhecimento tornava cada vez menos factível. Lançar pontes entre as Ciências da Natureza e as Ciências Humanas continua sendo um projeto fundamental, embora difícil de realizar.

A esse primeiro objetivo acrescentava-se outro, de igual relevância: a revista deveria secundar um dos desígnios centrais do IEA: pensar o Brasil, conhecer a fundo o seu presente para ajudar a construir o seu futuro. A meta era – e ainda é – criar um estilo de desenvolvimento não só econômico, mas social e cultural, sem descartar a defesa do ambiente. Hoje, esse mesmo complexo de atributos recebe o nome de desenvolvimento sustentável. Os valores de justiça e democracia de uma nação não se proclamam sem que se proceda a uma análise objetiva das condições materiais e culturais em que vive o seu povo.

Dessa dupla visada, científica e ética, resultaram os 73 números de estudos avançados publicados até o presente. Se a tarefa a que se propuseram os editores foi cumprida a contento, não cabe a nós julgar. O que nos compete é fazer o balanço dos temas e problemas explorados ao longo de mais de duas décadas de trabalho ininterrupto. Ao leitor resta o papel de ajuizar o programa e a sua execução.

Em seus 25 anos de existência, a revista percorreu extenso campo temático.

• Filosofia: teoria da ciência, metodologia. Ética.
• Astronomia.
• Biologia, Biodiversidade e Biotecnologia.
• Teorias socioambientais.
• Teoria política, Parlamentarismo, Presidencialismo e Marxismo.
• Economia, Pensamento econômico, Desenvolvimento e dependência. Crise financeira internacional.
• Política internacional, Globalização, Nação, Organizações internacionais.
• América Latina, Mercosul, Argentina, Chile, Peru, Venezuela, Cuba. Estados Unidos. Leste Europeu. Rússia.

Brasil:

• Dilemas e desafios. Perspectivas.
• Recursos naturais, água, reflorestamento, fontes de energia.
• Regiões: Amazônia. Nordeste seco.  São Paulo hoje.
• Questão agrária e desenvolvimento rural.
• Migrações.
• Saúde pública, fome, segurança alimentar, epidemias.
• Educação básica, universidade.
• Trabalho e emprego.
• Justiça,  segurança pública.
• Religiões.
• Direitos Humanos. Mulher. Negro. Indígena.
• História social, política e cultural.
• Cultura popular.
• Literatura. Artes plásticas. Música. Teatro. Cinema.

No bojo dos tópicos listados, o leitor encontrará textos vários, alguns conceituais, outros empíricos, resultados de pesquisas pontuais.

O que se segue é apenas uma tentativa de percorrer transversalmente a matéria de estudos avançados, localizando alguns editorais a título de exemplo da ampla diversidade de assuntos e enfoques. A coleção completa da revista encontra-se disponível para consulta na íntegra no site do periódico na Scientific Electronic Library Online – SciELO:* www.scielo.br

No número 72, o leitor encontrará um acervo de informações e comentários sobre aspectos fundamentais da economia, da política e da vida cultural da Cuba contemporânea. As crises que se seguiram ao desmantelamento da União Soviética tiveram, como era de prever, efeitos desastrosos no tecido econômico da Ilha. No entanto, a criatividade da sua cultura parece intacta. Basta ler o que está registrado nas páginas da revista: a manutenção do sistema educacional, o cuidado com a saúde pública, o cultivo da ciência básica, o interesse pelas várias formas de cultura popular, a vitalidade do cinema, do teatro, da música, das letras e das artes plásticas.

O dossiê "São Paulo, hoje", publicado no número 71, reúne artigos que convertem os seus temas em problemas. Seja qual for o aspecto escolhido, o tratamento conduz à forma do desafio. A cidade é um nó de impasses. A rigor, não deveria mais crescer, tendo ultrapassado os limites de uma convivência civilizada; mas quem deterá o ímpeto capitalista no seu afã de ocupar e explorar todos os espaços possíveis tratados como matéria-prima de investimento e lucro? O Estado, ao qual caberia o dever de corrigir a irracionalidade do mercado, é conivente com os lobbies das incorporadoras e empreiteiras. A patologia da metrópole tem raízes na segregação das classes sociais: não há urbanismo viável se predominam em toda parte soluções individuais para questões de moradia, transporte, segurança, ambiente, lazer... Qual a terapêutica, feito o diagnóstico? Os colaboradores do dossiê buscaram franquear os limites do esquema vigente. Para tanto, voltam-se para instâncias comunitárias ou, no outro extremo, supranacionais. Associações de bairro numa ponta; fóruns mundiais, na outra. A experiência local enriquece as discussões globais. E a percepção de que há saídas em nível planetário estimula a ação dos grupos menores. Daí, o convite final à militância.

O número 70 centrou-se em uma das mais admiráveis conquistas da ciência contemporânea, a biotecnologia. Do largo espectro de suas aplicações, o dossiê destacou três vertentes fundamentais: a) a relação entre biotecnologia e desenvolvimento sustentável; b) as múltiplas interações da biotecnologia com as práticas médicas, veterinárias e farmacológicas; c) os usos da biotecnologia na agricultura.

Cremos que os estudos publicados, nesse número, constituem-se num referencial útil não só aos estudiosos de biotecnologia, mas também aos leigos, que esperam dessas pesquisas uma contribuição segura para o desenvolvimento sustentável e o trato da saúde pública.

O número 69 dedicou-se àquele campo aberto a que se convencionou chamar de Humanidades. O termo é antigo, vem dos estudos filosóficos e literários que preparam o Renascimento italiano e europeu, ou, mais precisamente, vem dos humanistas italianos do século XV, que se voltaram para a herança grega e latina com ênfase nas faculdades propriamente humanas: o pensamento, a memória, a imaginação, a linguagem, a consciência moral. Daí provém a multiplicidade que se abriga no bojo das Ciências Humanas.

Conservamos o nome, Humanidades, para caracterizar o dossiê dessa edição. O leitor encontrará textos que se produziram no limite entre a teoria literária e a história das mentalidades; ou entre a sociologia e a semântica. As abordagens transversais que ultrapassam os confins das ciências especializadas fazem parte do programa do Instituto de Estudos Avançados, que a revista se propõe a desdobrar e difundir.

E como não há Humanidades sem pessoas, incluímos no dossiê perfis de intelectuais que deram à sua palavra um sentido de resistência ética e política: Joaquim Nabuco e Eric Hobsbawm.

O número 68 retoma e aprofunda problemas relativos a situações críticas verificadas em território brasileiro. Mas o que diferencia o dossiê "Teorias Socioambientais" dos seus similares é a ênfase no tratamento teórico das questões socioambientais. estudos avançados teve a honra de dedicar esse número ao eminente geógrafo professor Aziz Ab'Saber, inspirador constante da diretriz ambientalista do Instituto de Estudos Avançados.

Os números 65 e 66 foram dedicados à crise econômica de âmbito internacional. Os ensaios do número 66 retomaram e aprofundaram a abordagem holística que caracterizou o número 65, e são completados por textos voltados para os efeitos da crise no interior da economia brasileira. O espectro é amplo tanto do ponto de vista da informação idônea, lastreada de dados estatísticos precisos, como da interpretação e do julgamento político do quadro mundial. Parece consenso acusar entre os fatores básicos da crise a prática abusiva da desregulamentação financeira, que vem predominando há pelo menos 20 anos, ancorada nos princípios do neoliberalismo. Mas as leituras são variadas: ao lado de enfoques pontuais, centrados nos desastres recentes do mercado imobiliário norte-americano, travamos conhecimento com hipóteses mais ambiciosas que enfrentam todo o movimento de acumulação capitalista do século passado com seus momentos estáveis pontuados de ameaçadores desequilíbrios. O confronto com a grande crise de 1929 ronda mais de uma interpretação.

Em relação ao contexto brasileiro, a situação apontada nos textos mostra-se grave, mas ainda não catastrófica: o crédito escasseia, a atividade produtiva se desacelera, o desemprego reponta em alguns setores, e a variável da informalidade do trabalho tem maior peso. Os índices de pobreza, no entanto, vêm baixando (se bem que em proporções mínimas) graças a medidas distributivistas de efeitos compensatórios. De todo modo, estudos avançados continuará atenta aos desdobramentos da crise em nível mundial e nacional.

 

Nota

* A SciELO Brasil possui atualmente 238 periódicos correntes indexados em sua base de dados. estudos avançados é o segundo título mais visitado. O primeiro é Saúde Pública, revista da Faculdade de Saúde Pública da USP. O Comitê Consultivo SciELO Brasil, em sua IV Reunião, realizada em 23 de abril de 2003, selecionou estudos avançados para inclusão na coleção.
O número 49 de estudos avançados foi o primeiro a ser indexado, em março de 2004. Graças à determinação do então diretor do IEA na época, professor João Evangelista Steiner, a coleção completa ficou disponível on-line em abril de 2006.
De março de 2004 a meados de outubro de 2011, o número de acessos aos artigos publicados em estudos avançados foi de 15.716.281 (quinze milhões, setecentos e dezesseis mil e duzentos e oitenta e um). Tal quantidade de acessos mostra a repercussão e o impacto social dos dossiês publicados na revista, no Brasil e no exterior.
Em 2007, a Editoria deu início ao trabalho de versão para o inglês dos artigos publicados em estudos avançados, principalmente nos dossiês. Os artigos já estão disponíveis para consulta no site do periódico na SciELO. O número de acessos aos artigos vertidos para o inglês no período de agosto de 2009 a meados de outubro de 2011, foi de 346.575 (trezentos e quarenta e seis mil e quinhentos e setenta e cinco). (D.L.B.)

 

Alfredo Bosi é titular de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo e pertence à Academia Brasileira de Letras. Publicou, entre outras obras, História concisa da literatura brasileira, O ser e o tempo da poesia, Céu, inferno, Dialética da colonização, Machado de Assis: o enigma do olhar, Literatura e resistência, Brás Cubas em três versões e Ideologia e contraideologia. É editor da revista estudos avançados.  @ – abosi@usp.br

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Texto publicado em:

Estudos Avançados - versão impressa ISSN 0103-4014

Estud. av. vol.25 no.73 São Paulo  2011