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Ordem e Informação em Motins Supremacistas: O Discurso Vazio de Bolsonaro e o Fundamento Místico de sua Autoridade

por Sandra Sedini - publicado 22/03/2023 14:35 - última modificação 30/03/2023 15:32

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de 28/03/2023 - 14:00
a 28/03/2023 - 17:00

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O termo bolsonarismo vem sendo utilizado de forma difusa sem explicitar seu referente e seus atributos específicos. Vários estudiosos, pensadores e políticos debatem seu significado a partir de premissas parciais que não conseguem fundamentar descrições, explicações, menos ainda, interpretações em argumentos não reducionistas.

Surgindo nas névoas de manifestações populares ocorridas em diferentes partes do mundo, o bolsonarismo se mostra compatível com análises associadas às ideias emergentes no campo das chamadas “Guerras Híbridas”, sem contudo fazer com que se consiga inseri-lo como categoria discursiva consensual neste campo semântico difuso.

Por outro lado, afirma-se constituir-se em movimento político passível de ser adjetivado como sendo expressão de uma denominada extrema direita mundial. Quais seriam os seus atributos que permitiriam dizê-lo equivalentes a outras manifestações políticas classificadas como de extrema direita?

As operações estratégicas manipuladoras de informações disseminadas pelos veículos de T.I implicam forças persuasivas que produzem manifestações de massa aglutinando-a sob forma da eclosão de motins supremacistas. Ser bolsonarista engloba identidades que não necessitam de quaisquer qualificações adjetivas para se caracterizar. Tais operações e consequências são passíveis de serem identificadas ocorrendo em outras regiões do globo? O uso recorrente de comparações com as manifestações do Capitólio nos EUA com o ocorrido em Brasília em 08 de janeiro, seria adequado? Como se equivaleriam?

A análise da força do carisma de Bolsonaro sobre estes bolsões amotinados mostra-se apoiada em núcleos de pensamento (think tanks específicos) estruturando e explorando sistemas de inteligência, com grande competência, a manutenção do seu poder místico, apesar de vácuo de argumentos e permeado de discursos ambíguos e contraditórios entre si. Qual seria a central desta guerra não declarada, mas que se estrutura sobre uma ordem oculta disseminando informações desestabilizadoras da força das leis?

Uma produção enorme de elementos vem sendo gestados no sentido de se compor um campo não redutor de caracterização do significado do termo bolsonarismo e da figura Bolsonaro. Miguel Lago, de forma ousada, conclui ser Bolsonaro, um revolucionário de extrema direita. O apelo deste epíteto remete-nos a pensar na grande contradição de se constituir ente revolucionário, visando à subversão da ordem dentro da qual se constitui como autoridade. A atmosfera de delírio, transe e possessão manifestada entre amotinados levou Joel Birman a intitular tal emergência como um “Apocalipse à brasileira”. Mas para Derrida, a força da lei é o fundamento místico de sua autoridade. Onde e como localizá-la?

Caberia perguntar, então, se seria possível, do interior de um sistema lógico, subverter suas regras ou leis, corrompendo ou sequestrando sua mística? A hipótese desta possibilidade, em confronto com as ações competentes dos think tanks do bolsonarismo que funcionam como um Estado Maior de um governo oculto, nos leva a concluir, com base no conhecimento da Lógica a respeito da disseminação de fake news como núcleo estratégico central de sua ação política desestabilizadora que, tais discursos políticos seriam especialmente construídos. Sua perspectiva seria ter como critério sutilmente esconder seus objetos persuasivos, ainda que não o possam mediante a utilização de ferramentas da lógica que permitem a identificação de contradições e absurdos dentro do discurso.

O uso operacional do instrumental da Lógica implica o domínio de códigos especializados. Contudo, no campo da Lógica, pode-se basear o trabalho de desconstrução do bolsonarismo a partir da aceitação de que o absurdo lógico, que é a violação do Princípio de Não-Contradição, coincide com o Conjunto Vazio, uma vez que não existe o objeto absurdo, aquilo que têm e não têm certas propriedades definidoras do mesmo ao mesmo tempo. Essa visão foi mantida por Quine que, na década de 1930, apoiou-se no 'Principio de Explosão', ou Regra de Duns Scotus, a partir da asserção que, da trivialização de um sistema axiomático, pode-se deduzir qualquer objeto. Esta proposta resume-se no seguinte Princípio de Quine: "do conjunto vazio tudo pode ser dito".

Essa seria a diferença fundamental: tais discursos bolsonaristas não pecariam por serem contraditórios, eles o seriam como estratégias para se auto-justificarem. Nesse sentido, considerando-se o discurso de Bolsonaro como o referido discurso vazio, seria o mesmo instrumento para aumentar o fundamento místico de sua autoridade. Sem falas, argumentos ou discursos sua imagem se sustenta como força de lei, transformando em violência a força pública.

Em síntese, a produção intencional do bolsonarismo, como um movimento político, estaria baseada na execução de um complexo e sofisticado projeto envolvendo estratégias de conhecimento articulando Lógica e Biopolítica. Um avanço na eficiência bélica das chamadas Guerras Híbridas?

O presente seminário quer lançar luzes sobre essa questão.

Exposição:

Evando Nascimento (UFJF)

Miriam Chnaiderman (Instituto Sedes Sapientiae)

Carlos Teixeira Alves (IFRJ)

Debatedor:

Massimo Canevacci (Universidade de Roma La Sapienza/IEA-USP)

Coordenação:

Eda Tassara (IP/IEA-USP)

Transmissão:

Acompanhe a transmissão do evento em www.iea.usp.br/aovivo

Inscrições

Evento público e gratuito | Sem inscrição

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