Afetando Tecnologias, Maquinando Inteligências
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Quando
a 07/02/2020 - 21:00
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Eu, [humano]1 de cor, só quero uma coisa:
Que jamais o instrumento domine o [humano].
—Frantz Fanon, “Pele Negra, Máscaras Brancas” (1952)
Fanon fez esse apelo assim que os primeiros computadores digitais estavam sendo construídos nos Estados Unidos. Quase setenta anos depois, as tecnologias da informação construídas com Inteligência Artificial (IA) e Aprendizado de Máquina (AM) estão sendo cada vez mais impregnadas nos tecidos sociais e cívicos em todo o mundo, codificando injustiças coloniais em infraestruturas globais de informação. A ferramenta de software passou a possuir o "humano de cor".
Quem constrói essas ferramentas? Muitos trabalhos novos em IA e AM são informados por um entendimento de IA e AM que está enraizado nos valores culturais e legais do Norte Global. Por exemplo, clichês americanos de ficção científica da década de 1950 influenciam a imaginação popular dessas tecnologias como "inteligências" governantes sobre-humanas ou "robôs" servis e sub-humanos flutuando em um nevoeiro de dados. Os usos da IA e AM estão situados em diferentes localidades culturais, políticas e geográficas, onde também existem diferenças de poder e agência entre as pessoas que estão interagindo com essas tecnologias. Com demasiada frequência, os futuros tecnológicos são determinados apenas por pessoas com formação avançada em sistemas tecnológicos e com um entendimento achatado do cenário social.
Como a escritora Audre Lorde disse em 1979, "as ferramentas do mestre nunca desmontarão a casa do mestre". Assim, nosso trabalho, como pesquisadores críticos, artistas e ativistas, deve começar desmontando esses clichês para construir juntos um entendimento coletivo dessas ferramentas e instrumentos. Por exemplo, podemos considerar as seguintes perguntas:
- Que formas de "inteligência" são implicitamente codificadas e privilegiadas nessas tecnologias?
- Como podemos codificar maneiras diferentes e plurais de saber? Como podemos maquiná-las para cuidar inteligentemente do humano, mais-do-que-humano, e do planeta?
- Como os diferentes tipos de recursos, como minerais, informação e mão de obra, são transportados pelo planeta para sustentar essas tecnologias da informação? Como podemos remodelar esses fluxos?
- Como podemos repensar criticamente os potenciais e funções das inteligências não-humanas para justiça social e criatividade? Quais comunidades e perguntas estão sendo mal atendidas ou sobre-analisadas por esses sistemas?
- Como as condições sociais e econômicas da competição global moldam as pedagogias da IA e de AM? Como podemos desenvolver pedagogias alternativas que centralizam questões de justiça?
Informados pelo nosso trabalho de desfazer as ferramentas do mestre, trabalharemos juntos para construir novos tipos de ferramentas e instrumentos que podem construir novos tipos de casas. Esta cúpula propõe uma reformulação criativa das possibilidades de maquinar inteligências e trabalha através de três etapas interconectadas: Deslinguagem (Delanguageing), Relinguagem (Relanguageing) e Intervenção (Intervening).
Os convidados trabalham e pesquisam criticamente questões de tecnologia, computação, arte e humanidades/pesquisa social. A maioria dos convidados está ligada ao Sul Global, e/ou perspectivas de(s)coloniais, feministas e indígenas. Eles trazem uma disposição ativista e colaborativa, especialmente por meio de formas participativas e performativas de construir conhecimento, pesquisa e prática artística.
Intencionalmente, focalizamos as vozes dos colonizados, oprimidos e marginalizados, que muitas vezes são deixados de lado no discurso e no desenvolvimento da tecnologia.
1 - A palavra homem foi substituída por humano para incluir todos os gêneros.
Programação
5 de fevereiro | 6 de fevereiro | 7 de fevereiro | |
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10h - 12:30h |
COMPARTILHAR: DESLINGUAGEM (no IEA USP, Sala Alfredo Bosi) [Esta sessão está aberta a todo o público com inscrição prévia] |
COMPARTILHAR: RELINGUAGEM (no IEA USP, Sala Alfredo Bosi) [Esta sessão está aberta a todo o público com inscrição prévia] |
COMPARTILHAR: INTERVENÇÃO (no IEA USP, Sala Alfredo Bosi) [Esta sessão está aberta a todo o público com inscrição prévia] |
14h - 17h |
FAZER+DISCUTIR (no InovaUSP, Sala do CAIA - Comunidade de Arte e Inteligência Artificial) [para convidados] |
FAZER+DISCUTIR (no InovaUSP, Sala do CAIA - Comunidade de Arte e Inteligência Artificial) [para convidados] |
FAZER+DISCUTIR (no InovaUSP, Sala do CAIA - Comunidade de Arte e Inteligência Artificial) [para convidados] |
18:30h - 21h |
CONHECER AO OUTRO (Local a ser definido) [para convidados] |
APRENDER (no InovaUSP, Sala do CAIA - Comunidade de Arte e Inteligência Artificial) [para convidados] |
ENCONTRO FINAL+PERFORMAR (no InovaUSP, Sala do CAIA - Comunidade de Arte e Inteligência Artificial) [evento aberto sem inscrição prévia] |
05/02
10h - 12:30h |
COMPARTILHAR: Deslinguagem Nossas conversas sobre computação são, é claro, moldadas pelas palavras que usamos para conversar e pensar sobre tal. Essa linguagem é necessariamente fornecida com seu próprio contexto – que se torna visível com algumas citações: "ferramenta" "artificial" "inteligência" "Humano" "desumano" "máquina" "ciborgue" "tecnologia" "mídia" "viés" "ética" "regulamentação" "humanidade" "empatia" "design" "parceiro" "cidadão" "aplicativo" "dados" "erro" "cultura" Nesta sessão de compartilhamento de falas/apresentações, convidamos nossos participantes a um exercício de “deslinguagem”, de modo a repensar nosso vocabulário. Algumas questões fundamentais podem incluir: Quais são as nossas epistemologias de crítica? O que as epistemologias e ontologias desses conceitos tornam possível ou impossível? O que eles consideram certo e quais são seus objetivos? Como esses conceitos estão sendo possibilitados por paradigmas coloniais, quantitativos, desiguais e centrados na tecnologia? Os apresentadores são: Rafael Grohmann, Katherine Ye, Amanda Chevtchouk e Gabriel Pereira. |
14h - 17h |
FAZER + DISCUTIR Facilitaremos sessões para discussões e construções com os participantes. Este será um processo horizontal, dinâmico e construtivo. Como tal, assumirá a forma que os participantes entenderem ser mais proveitosa. Nossas idéias propostas para grupos de trabalho incluem:
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18:30h - 21h |
CONHECER AO OUTRO Faremos uma atividade social para nos conhecermos, que será determinada no dia. |
06/02
10h - 12:30h |
COMPARTILHAR: Relinguagem Como podemos pensar em inteligências de máquinas considerando os valores e paradigmas de maneiras plurais de pensar e conhecer de diferentes localidades (ou seja, aquelas cujas perspectivas foram marginalizadas ou apagadas)? Quais são as maneiras pelas quais essas idéias estão sendo expressas e retrabalhadas por comunidades plurais? Como inteligências de máquinas são apropriadas? Nesta sessão de compartilhamento de falas/apresentações, convidamos nossos participantes a um exercício de "relinguagem" compartilhando seus experimentos/projetos que imaginam e centralizam outras palavras/mundos (ou usam palavras/mundos normativos de uma maneira diferente). Essa reformulação pode envolver novas linguagens como justiça, comunidade, descolonização, e pluralidades. Os apresentadores são: GECID (Bruno Moreschi + Guilherme Falcão + Bernardo Fontes), Sabelo Mhlambi, Tais Oliveira e Dalida Maria Benfield. |
14h - 17h |
FAZER + DISCUTIR Facilitaremos sessões para discussões e construções com os participantes. Este será um processo horizontal, dinâmico e construtivo. Como tal, assumirá a forma que os participantes entenderem ser mais proveitosa. Nossas idéias propostas para grupos de trabalho incluem:
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18:30h - 21h |
APRENDER Esta sessão será realizada como oficinas paralelas, à quais todos serão convidados a participar. Bernardo Fontes: Sintetizando novas faunas - Explorações com image-to-image Lucas Nunes e Rafael Tsuha: Uma brecha dentro do museu – Problematizando a visão computacional das IAs comerciais Outros workshops a serem anunciados. |
07/02 |
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10h - 12:30h |
COMPARTILHAR: Intervenção
O que queremos que as inteligências de máquinas façam por nós, agora e no futuro? Como estamos e como podemos centralizar diversos conhecimentos humanos em nossa concepção do que eles podem fazer? Como podemos maquiná-los para cuidar inteligentemente do humano, mais-do-que-humano, e do planeta? Nesta sessão de falas/apresentações, convidamos nossos participantes a compartilhar seus projetos que visam intervir e mudar as realidades em relação às inteligências de máquinas e computação. Isso pode envolver projetos ativistas, políticos, de pesquisa, ou artísticos, entre outras propostas pedagógicas e de conhecimento. Os apresentadores são: Silvana Bahia, Jennifer Lee, Didiana Prata, Giselle Beiguelman e Rodrigo Ochigame. |
14h - 17h |
FAZER + DISCUTIR
Facilitaremos sessões para discussões e construções com os participantes. Este será um processo horizontal, dinâmico e construtivo. Como tal, assumirá a forma que os participantes entenderem ser mais proveitosa. Nossas idéias propostas para grupos de trabalho incluem:
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18:30h - 21h |
ENCONTRO FINAL + PERFORMAR Este será o momento de compartilhar informalmente o que trabalhamos juntos durante o evento, para todos do grupo. Como tal, a organização disso será dinâmica de acordo com nosso trabalho conjunto. Abriremos espaço para mini-instalações e performances, por exemplo. Também teremos apresentações com som e IA, por Gabriel Lemos e André Damião ("Guerra Não Linear"), e outras apresentações a serem determinadas. |
Inscrições
Evento público e gratuito | Em espanhol, inglês e português sem tradução | Com inscrição prévia (veja detalhes abaixo)
As inscrições são apenas para as sessões matutinas. As demais são fechadas para convidados, exceto a sessão de encerramento, que será aberta e sem inscrição.
Organização
Center for Artificial Intelligence (C4AI) - Fapesp + IBM + USP
Comunidade de Arte e Inteligência Artificial (CAIA) - InovaUSP
Comissão organizadora
Katherine Ye (Carnegie Mellon University)
Dalida Maria Benfield (Vermont College of Fine Arts e CAD+SR)
Bruno Moreschi (Center for Arts, Design and Social Research e InovaUSP)
Gabriel Pereira (Aarhus University)
Apoio
Center for Arts, Design, and Social Research (CAD + SR)
Pedro Barbosa
Instituto de Estudos Avançados