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Fundamentos da Análise Econômica

por Marilda Gifalli - publicado 13/08/2013 16:35 - última modificação 15/08/2014 17:12

Existem barreiras metodológicas que impeçam a economia neoclássica de fornecer previsões com maior grau de acerto? Investigar essa questão será o trabalho de equipe coordenada pelo economista Marcelo Tsuji, criada em 2005, e com a participação dos lógicos Newton da Costa e Francisco Antonio Doria e vários consultores.

A grande característica da evolução da economia no século 20 foi sua transformação metodológica, com a crescente utilização de métodos e conceitos matemáticos mais sofisticados. De acordo com Tsuji, isso colaborou com à criação e consolidação da principal linha de pesquisa em economia, "marcada pelo uso de modelos matemáticos na formulação de teorias e hipóteses e de testes empíricos de base estatística para as suas possíveis validações".

O economista ressalva, porém, que ao se observar de forma mais cautelosa, a partir de critérios amplos aplicados a outras ciências (física e biologia, por exemplo), esse sucesso da matematização da economia não parece ser tão claro: "Por exemplo, no quesito das previsões fornecidas pela economia neoclássica, os resultados foram inquestionavelmente muito reduzidos".

Tsuji explica que os economistas neoclássicos reconhecem tal limitação e argumentam que isso se deve ao pouco tempo em que a economia trabalha com os novos métodos. "Com o aperfeiçoamento dos modelos e melhora na qualidade dos dados coletados sobre as mais diversas atividades econômicas, as previsões tenderiam inevitavelmente a ser aperfeiçoadas".

O que a equipe do projeto propõe é um estudo dos fundamentos das diversas teorias econômicas fornecidas pela economia neoclássica. Isso será feito com o emprego de métodos matemáticos mais gerais do que aqueles comumente conhecidos ou utilizados por uma grande parte dos economistas atuais. Caso o uso de tais métodos possibilite melhores previsões, ficará clara a existência de algo intrinsecamente limitante no tipo de matemática atualmente empregado pela economia neoclássica.

Como exemplos de técnicas matemáticas modernas praticamente desconhecidos pelos economistas e que podem ajudar a esclarecer a questão, Tsuji cita:

• Teoria da Recursão e Complexidade — instrumento para a compreensão se as teorias podem ser computáveis ou não (teoricamente ou na prática);

• Lógicas Não-Clássicas como Fundamento de Teorias da Decisão Econômica — é possível que as pessoas tomem decisões econômicas que violem as leis da lógica clássica, como alguns experimentos de psicologia experimental parecem indicar; em tais condições, a economia neoclássica seria impotente para descrever tal fenômeno, devido à logica (clássica) subjacente à sua matemática de sustentação;

• Teorias Matemáticas Construtivas — com elas, poderiam ser verificadas quais teorias econômicas seriam passíveis de implementação na prática por seres humanos e quais seriam meramente abstrações idealizadas, que nunca poderiam ser concretizadas;

• Topologia Algébrica — em cálculo de variações, a utilização de mais que duas variáveis requer o uso de técnicas extremamente avançadas de topologia algébrica, que estão fora do alcance da matemática atualmente ensinada aos economistas; contudo, parece ser claro que o uso de mais variáveis é extremamente necessário para que o estudo dos problemas econômicos tenha maior detalhamento.

O pesquisador destaca que esse tipo de estudo pode ter enorme relevância do ponto de vista social, "pois se autoridades monetárias e fiscais utilizam teorias inadequadas na formulação de políticas econômicas (com baixo poder de previsão), podem estar infligindo sacrifícios desnecessários à população".

Já aceitaram participar como consultores do grupo: Antonio Delfim Netto, professor emérito da FEA/USP e presidente do Conselho de Economia da Fiesp; Vella Velupillai, da Universidade de Galway (Irlanda) e da Universidade de Trento (Itália); John Casti, do Instituto Santa Fé (EUA) e da Universidade de Tecnologia de Viena (Áustria); Drausio Giacomelli, vice-presidente do JP Morgan Chase Bank (EUA); Paulo Vellinho, empresário, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social; e Raul Velloso, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

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EVENTOS

O papel das instituições no desenvolvimento econômico

nelson.jpgRichard Nelson

O economista norte-americano da Universidade Columbia, esteve no IEA no dia 8 de novembro de 2005. Segundo ele, o termo "instituições" tem sido adotado por grande parte dos economistas desde os anos 80 para caracterizar os fatores fundamentais que definem a produtividade econômica e sua progressividade. Considerado um dos maiores teóricos mundiais sobre inovação, Nelson concentra suas pesquisas no processo de mudança econômica de longo prazo, com ênfase particular nos avanços tecnológicos e na evolução das instituições econômicas.

Nelson veio a São Paulo a convite do Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC) e do IEA. Debateram com ele os economistas João Furtado, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, e Milton Campanário, da Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas do IPT e professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.

Em março deste ano foi lançado no Brasil um livro do qual Nelson é um dos organizadores. Trata-se de "Tecnologia, Aprendizado e Inovação - As Experiências das Economias de Industrialização Recente", primeiro volume da "Coleção Clássicos da Inovação" da Editora Unicamp. A obra contém 15 artigos de diferentes especialistas. Os trabalhos analisam os êxitos econômicos e processos de inovação tecnológica da Coréia do Sul, Tawain, Indonésia, Malásia, Cingapura e Hong Kong. As experiências dessas países são contrastadas com as da Índia, China e América Latina, com destaque para o exame das estratégias de inovação dos governos e empresas.

Alguns de seus outros livros são: "The Sources of Economic Growth" (2000), "The Sources of Industrial Leadership" (1999), "National Innovation Systems: a Comparative Analysis (1993) e "An Evolutionary Theory of Economic Change" (1985).

Nelson é professor de economia política internacional na Universidade Columbia, onde foi o primeiro diretor do Consórcio de Política Pública, criado em 1997. De 1956 a 1957, foi professor assistente do Oberlin College. De 1968 e 1986, lecionou na Universidade Yale, na qual obteve seu doutorado em 1956. Também trabalhou como economista na Rand Corporation (1957-1960, 1963-1968) e foi membro sênior (de 1961 a 1963) do Council of Economic Advisors, órgão de assessoramento econômico da Casa Branca. Entre 1981 e 1986, atuou como diretor da Institution for Social and Policy Studies.

A Natureza dos Juros

giannetti4.jpgEduardo Gianetti

Os juros fazem parte da vida de todos. Aparecem tanto nas discussões sobre o crescimento econômico da Nação como em aspectos triviais do cotidiano. O princípio econômico é simples: o devedor antecipa um benefício para desfrute imediato e se compromete a pagar por isso mais tarde, e quem empresta cede algo de que dispõe agora e espera receber um montante superior no final da transação. No livro "O Valor do Amanhã — Ensaio sobre a Natureza dos Juros" (Companhia da Letras), lançado no final de outubro, Eduardo Giannetti defende que esse aspecto dos juros é apenas parte de um fenômeno natural maior, tão comum quanto a força da gravidade e a fotossíntese.

No dia 30 de novembro, no IEA, Giannetti fez a conferência "A Natureza dos Juros", baseada no seu livro. De acordo com Giannetti, a questão dos juros não se restringe ao mundo das finanças, atingindo as mais diversas e surpreendentes esferas da vida prática, social e espiritual, "a começar pelo processo de envelhecimento a que nossos corpos estão inescapavelmente sujeitos". Desde o momento em que aprendeu a planejar sua vida, o homem antecipa e projeta seus desígnios usando essa prática. Mesmo antes disso, a noção de juros já "está inscrita no metabolismo dos seres vivos e permeia boa parte do seu repertório comportamental". Como exemplos de situações da vida prática nas quais se manifesta a realidade dos juros, o economista cita a prática de dieta, a dedicação aos estudos e os exercícios físicos para melhoria da saúde.

Ao extrapolar os limites financeiros do fenômeno, Giannetti defende que questões concretas — como a alta taxa de juros no Brasil — possuem raízes comportamentais e institucionais ligadas à formação de nossa sociedade. Ele discute também os problemas éticos da prática de juros extremamente elevados.

Giannetti graduou-se em economia e ciências socias na USP e obteve o Ph.D. na Universidade de Cambridge, Inglaterra, onde lecionou história do pensamento econômico na pós-graduação de 1984 a 1987. Ministrou a mesma disciplina na pós-graduação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP de 1988 a 1999 e desde de 2001 é professor da Faculdade Ibmec São Paulo. Além de "O Valor do Amanhã", escreveu "O Mercado das Crenças — Filosofia Econômica e Mudança Social" (2003), "Felicidade — Diálogos sobre o Bem-Estar na Civilização" (2002), "Auto-Engano" (1997), "As Partes e o Todo" (1995, Prêmio Jabuti), "Vícios Privados, Benefícios Públicos?" (1993, Prêmio Jabuti) e "Liberalismo versus Pobreza" (1989). Em 2004 foi eleito Economista do Ano pela Ordem dos Economistas de São Paulo.

A realidade dos mercados financeiros

giacomelli.jpgDrausio Giacomelli

O vice-presidente para América Latina do banco JP Morgan Chase, fez no dia 7 de abril de 2006, a conferência "Mercados Financeiros na Prática: Limites Institucionais e Comportamentais". Debateram com ele Eleutério Prado, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, e Ricardo Dias de Oliveira Brito, da Faculdade Ibmec São Paulo.

Segundo Giacomelli, a racionalidade em economia enfrenta seus testes mais severos no mercado financeiro: "A previsão de que os preços refletem corretamente os fundamentos e que, na ausência de arbitragem, estratégias baseadas em dados passados não podem ser consistentemente 'vencedoras' é freqüentemente negada pela evidência".

Giacomelli explica que várias hipóteses do modelo básico de eficiência de mercado têm sido afrouxadas para adequar o modelo aos fatos e, além disso, mais recentemente, a negação da racionalidade plena parece ganhar destaque no meio acadêmico. "Essa nova vertente — cujo nome pode ser traduzido como 'finanças comportamentais' — tem reformulado a escolha do individuo em um ambiente de incerteza. Com base na psicologia, a decisão antes baseada na utilidade esperada, dá lugar a conceitos como aversão à perda, probabilidades não-lineares, excesso de conservadorismo e enquadramento."

Graças a uma maior flexibilidade para parametrizar as preferências dos indivíduos, essa nova abordagem "tem sido bem sucedida em prover um modelo intuitivo, ainda que um tanto agnóstico, do mercado financeiro", afirma o economista.

Na conferência, Giacomelli rediscutiu essa abordagem sob a ótica da prática de finanças e levantar um aspecto que, embora fundamental, tem recebido pouca atenção na literatura da área: os limites que as instituições impõem à arbitragem. "Serão discutidas algumas possíveis explicações para ineficiências de mercado que, se ignoradas estas restrições institucionais, parecem originar-se de comportamento irracional dos agentes econômicos."

Engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, Giacomelli é Ph.D. em economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA, onde teve como orientador o renomado economista Rudiger Dornbusch (1942-2002).

Delfim Netto analisa os desafios para o desenvolvimento econômico

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Delfim Netto
Foto: Sebrae

No dia 22 de junho de 2006, na Sala da Congregação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, Delfim Netto fez a conferência sobre os "Desafios para o Desenvolvimento Econômico Brasileiro". Os debatedores foram João Sayad (da FEA/USP), Luis Carlos Bresser-Pereira (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas) e Sérgio Werlang (Banco Itaú).

Professor emérito da FEA/USP, onde desenvolveu toda sua carreira acadêmica até tornar-se professor titular de análise macroeconômica, em 1983, Delfim Netto cumpre seu quinto mandato consecutivo como deputado federal por São Paulo (atualmente está filiado ao PMDB). Foi ministro da Fazenda de 1967 a 1974, ministro da Agricultura em 1979, ministro do planejamento de 1979 a 1985, secretário da Fazenda do Estado de São Paulo em 1966 e embaixador do Brasil na França de 1975 a 1978. É autor de inúmeros trabalhos sobre economia e colaborador regular de jornais.

Evento debate o futuro da economia brasileira

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Roberto Macedo, Luiz Gonzaga Belluzzo e José Eli da Veiga

No dia 12 de dezembro de 2006 realizou-se o painel "Perspectivas e Tendências para a Economia Brasileira nos Próximos Cinco Anos".

O evento teve exposições de Roberto Macedo, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP e da Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), e de Luiz Gonzaga Belluzzo, professor do Instituto de Economia da Unicamp. José Eli da Veiga, também professor da FEA/USP, foi o debatedor. A moderação coube ao economista Marcelo Tsuji, coordenador do Grupo de Estudos sobre Teoria da Análise Econômica.